segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Ernesto Soares


“Fiz um grande jogo, devido à porrada que levei do meu irmão!”

BA– Boa tarde, senhor Ernesto… Como o senhor começou a ter vício pelo futebol?
ES– Ora bem… eu era puto, em criança, e ia guardar as ovelhas e roçar mato perto do campo da bola, e levávamos umas bolas de pano… éramos na altura, eu, meu primo Adriano, o Luís, o Adelino, vários rapazes da Vista Alegre.
BA– E como se introduziu no Nespereira?
ES– Comecei a ganhar vício, e ia jogar com os jogadores já credenciados, caso do Manuel do Ferrador, João do Cândido, o Abel e o Olegário; esses que iam jogar. Então eu ia aos treinos, e treinava com eles. Aí eu fiz 14 anos– e porque eu antes não tinha corpo para jogar, senão tinha começado a jogar ainda mais cedo– comecei a jogar no Nespereira F.C., a nível particular. E aí também estava introduzido o Alfredo Galhardo e o Isidro Semblano, meu cunhado. E nós os três começamos a jogar futebol com 14 anos.
Há quem diga que nós éramos os três craques da região. E depois de começarmos a jogar, nunca mais deixamos de jogar pelo Nespereira, até um determinado tempo. Por exemplo, eu fui mais tarde, quando completei 18 anos, conjuntamente com o Isidro e com o Galhardo, receber uns responsáveis do Paivense, para nos levar aos treinos… e então ficamos lá os três. Mas como o meu lugar era o mais difícil para se arranjar jogadores. Não existiam muitos jogadores para a extrema esquerda, acabei sendo o único que lá fiquei.
O Galhardo, por motivos de estudo– pois ele estudava na altura– não pode lá ficar.
BA– Que recordações guarda daquela época?
ES– Guardo imensas recordações! Mas tem uma… que eu até peço desculpa ao meu irmão Abel, mas vou contar.
Quando eu tinha os meus 16 anos, o Vila Viçosa veio jogar com o Nespereira ao Campo da Portelinha. E o Vila Viçosa tinha um director que era chamado José da Aurora, e faltava umas chuteiras, a um dos jogadores– talvez o filho, o Isidro– e pediu as chuteiras em casa do meu pai, e eu disse assim: “então vocês vem jogar sem chuteiras? O Nespereira não tem chuteiras para emprestar, não tem nada que pedir as chuteiras emprestadas!” Nisso, ele ficou calado! Ora fomos para cima, equipamo– nos lá no meio do monte, atrás de umas árvores, tanto eles, como nós.
E depois, esse sr. José da Aurora, como era amigo da família, exclusivamente do meu pai, Américo Soares, dirigiu– se ao meu irmão e disse: “ Ó sr. Abel, olhe que o seu irmão deu– me uma ripostada tão feia em casa de seu pai… disse– nos que devíamos ter trazido equipamento, que não tinha nada que emprestar chuteiras. Isso ficou– me cá dentro!” Ora o meu irmão ouviu aquilo, veio ter comigo e perguntou– me: “ Porque disseste aquilo ao sr. José da Aurora?” E eu respondi– lhe: “ O que eu disse está dito! Eu sempre fui um individuo directo… eu acho que quando um clube vem jogar futebol, deve vir preparado”,
Ora, o meu irmão Abel, um bocado nervoso, pegou por mim numa mão, e deu– me pontapés no rabo à volta do campo, até me por cá fora. Foi uma coça muito grande! Eu ainda era um bocado pequeno e o meu irmão já era casado, e na altura, fez aquilo que me devia fazer, e como o senhor era bastante amigo da família…Depois fomos jogar, eu
om 16 anos, ganhamos 8-0. Ora dizem os que viram, e os de Vila Viçosa, que eu fui o melhor jogador em campo, e marquei 4 golos, e isso nunca mais me sai da memória. Foi um grande jogo que eu fiz, talvez pela porrada que levei do meu irmão Abel.(risos)
BA– Qual o jogo que o marcou mais em toda a sua vida?
ES– Ora bem… falando no Nespereira, todos os jogos me marcaram, porque eu sempre fui amigo do Nespereira. Actualmente, não vou ver os jogos, por motivos pessoais, mas pergunto sempre, no final de cada jogo o resultado.
Mas o jogo que mais me marcou, que eu fiz como jogador, foi pelo Paivense contra o Feirense, que ganhamos 3-2.Fiz um jogo de categoria! Vim até nos jornais!Fui nomeado o Melhor jogador em campo, naquele jogo. Ganhamos 3-2, eu era extremo esquerdo, e o
Monteiro de Moimenta era interior. O Monteiro marcou o golo do empate (2-2), e eu marquei o golo da vitória! Foi esse o jogo que mais me marcou, como jogador de futebol.
BA– Qual o jogador que marcou a sua era, e vai marcar o Nespereira?
ES– Os jogadores que me ficaram na memória, e que ainda hoje não reconhecem– talvez porque haja outra táctica!- para mim, foram o Tonito Soares, o Galhardo e o Isidro.
BA– Actualmente, daquilo que conhece do Nespereira, que perspectivas tem para o Nespereira?
ES– Como disse há bocado, nas minhas palavras, não costumo ir ver os jogos, mas costumo ir ver os treinos. Tem lá rapazes jeitosos. mas tem um rapaz que eu admiro muito a jogar: é muito rápido e tem alguma técnica, que é um rapaz chamado Márcio. Esse jogador para mim, se fosse bem puxado e bem treinado por um treinador com mais sabedoria– não é que o Mouta Pinto não seja um rapaz valioso para treinar o Nespereira, mas de certeza há melhores treinadores! Mas para mim, esse jogador é bastante bom. Tem raça! E tem talvez lugar, num clube maior.
Quanto aos outros, tem lá bons jogadores, jogadores jeitosos, mas nada fora do normal… eu falo assim, porque, talvez no meu tempo, existissem jogadores de melhor categoria, eles actualmente não tem aquela fibra de ganhar jogos!
BA– Pensou alguma vez ligar– se ao Nespereira?
ES– Todas as vezes que há Direcções a formar, eu admiro esses “carolas” todos, e vai daqui uma palavra de apreço para a coragem deles e que Deus lhes ajude, sempre que tomem conta do Nespereira, porque são os “carolas”, não os “tubarões”- esses que tem dinheiro!- que fazem alguma coisa pela terra, porque os “tubarões” não fazem nada pela terra. E volto a dizer, que vai uma grande palavra de apreço para os “carolas”, e que continuem, porque todos os que passaram pelo Nespereira, foram sempre bons, porque senão o Nespereira já estava no charco, porque os “tubarões” não querem nada com o Clube.
Já fiz parte do Clube durante quatro anos, eu era tesoureiro mais o senhor Adão Peres, onde fizemos um Campeonato muito bom, e se não me engano, já andávamos na 3.ª Divisão Distrital. Eu lembro– me de ter que por dinheiro do meu bolso, mas que doei de bom grado. Algumas vezes as pessoas vem ter comigo para fazer parte da Direcção, só que não posso: não tenho nem vagar, e o Nespereira seria uma coisa que me afectaria muito o meu tempo.
BA– Não acha que como figura mítica do clube, motivaria a sua presença em alguns jogos?
ES– Sou muito nervoso (risos).

Para a semana: António Mendes

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