“Os jogadores de fora têem mais amor a camisola que os da terra!”
BA– Como é que o senhor começou a jogar futebol?
TS– Com uma bola de pano… com uma bola de pano! É verdade! Jogava com os meus tios e os meus primos, e com a malta nova da Vista Alegre… que era um “viveiro” de jogadores! Não é tirar mérito aos outros lugares, mas a Vista Alegre era um verdadeiro viveiro.
BA– E naquela altura quem eram os jogadores?
TS– Diversos… eu agora, não me lembro! Mas lembro que íamos jogar futebol com os antigos… com o sr. João do Cândido, que foi quem me ensinou a jogar futebol, e a seguir foi o Prof. Salazar. Cheguei a jogar com o Zé do Gago, com o Quim do Leopoldo, com o meu falecido pai, mas eu ainda era criança… mas com os jogadores verdadeiros, cheguei a jogar com o meu tio Ernesto, com o meu tio Olegário, o meu tio Manuel, o meu tio Isidro– que chegou a jogar futebol, era defesa direito no Nespereira! O Américo, o meu primo Tonito, o meu primo Adriano, o Zé Luís e o Adelino… e tinha mais um ou dois, mas que nunca chegaram a jogar futebol, que era mesmo só para encher...
BA– Pode-se dizer que era uma família de jogadores!
TS– Era uma família de “Suzanas” praticamente… para não falar no meu tio Abel que era um grande central. Se eu me fosse a lembrar de toda a rapaziada nova que lá andava no meu tempo! É o caso do Sérgio, que está no Brasil, o Fernando do “Chico”… mas esse nunca foi assim grande jogador! E tínhamos um grande guarda redes, que era o Reinaldo! Agora a jogar oficial, comecei a jogar como defesa esquerdo, e foi o João do Cândido que me ensinou a marcar o jogador. E depois, com o tempo, foi o Prof. Salazar– grande homem! Foi um grande homem no Nespereira, um bom treinador e um bom condutor de homens… e muita coisa que sei no futebol, agradeço– lhe a ele, que foi ele que me ensinou. A mim, ao Américo… ao Armando, já não digo, porque o Armando tinha as escolas do Porto! Ensinou a jogar à bola o Simão de Vila Chã.
Os falecidos Alfredo e o Isidro, esses também foram grandes jogadores, mas esses não eram precisos ensinar– lhes.
O meu tios Ernesto, esse nasceu com a raça de jogar.
Se em 1985/86, tivéssemos as condições que o Nespereira tem actualmente, não havia equipa nenhuma que nos ganhasse!
BA– Então considera que o Nespereira não foi bem sucedido por falta de condições?
TS– Perfeitamente! Este Campo de futebol não é do teu tempo! Fomos nós que botamos o saibro… nós os jogadores! Nós é que acartamos o saibro da estrada para o campo de futebol… nós é que andamos a espalha– los nas sextas feiras… os nossos treinos eram aos domingos, na época que o Prof. Salazar tomou conta da equipa… os nossos treinos eram nos dias de jogos.
BA– Qual era a sua posição?
TS– A minha posição era defesa esquerdo, mas também joguei a defesa direito, a defesa central, mas a minha verdadeira posição era defesa esquerdo!
BA– Qual o jogador que mais o marcou?
TS– O jogador que mais me marcou no Nespereira, não foi porque ele foi como um pai ali dentro… sim, porque ali dentro aquilo era como se fosse uma família… para mim foi o Carlitos de Paradela, como homem e como jogador. Teve também um outro grande homem, que também nos ensinou a jogar futebol, que foi o Armando. Era um grande guarda redes! Quando ele dizia “É minha!”, era dele mesmo! Nós estávamos com semelhante descontracção na defesa, que podia aparecer um jogador isolado, que era difícil marcar um golo ao Armando.
Ele era “É minha!” e era dele, quando dizia “Sai!”, era para sair mesmo... Mandava muito na defesa! Ainda hoje é o dia, que não apareceu um guarda redes com o à vontade do Armando, para mandar na defesa! Ele era o condutor do jogo da defesa!
Agora, jogador que me marcou, como homem e como amigo, porque nós pagávamos 20 escudos para lavarem– nos as camisolas, por cada jogo que a gente fazia! Como homem marcou– me muito o Carlitos, mas como jogador foi o Alfredo. Joguei pouco tempo com ele, mas tinha muitos como o Américo, o meu tio Ernesto, o Adélio, o Isidro, tivemos aqui um jogador que ninguém lhe dava valor nenhum, mas que era um jogador terrível: o Felício– dono daquele café de Vila Chã-… tivemos muitos! Olha, um que infelizmente faleceu na Guiné, que era o António, irmão do Júlio Amaral, que era um rico lateral direito. Cheguei a jogar com o Ricardinho Teles, que era uma borga com ele! O Artur na geração mais nova, foi o jogador mais completo que o Nespereira teve. Mas tinha a escola de Paiva, o que não me admirava nada! O Artur já sabia jogar futebol, foi muito bom jogador!
BA– Qual o jogo que lhe marcou mais?
TS– O jogo que mais me marcou e mais pena me deu, foi um jogo em Macieira. Estávamos a ganhar por 3-2, faltava para aí 1 minuto para acabar, e há um lançamento de linha lateral contra nós. Foi até o Bateira que o lançou para dentro da nossa grande área, a bola bateu– me no peito e entrou para dentro da baliza, e empatamos 3-3. Foi o jogo que mais me marcou… pela negativa!
BA– Conte um pela positiva!
TS– O jogo que mais alegria me deu, foi quando jogamos contra o ASA, e vencemos, tanto em Alvarenga, como aqui, para o INATEL– não é que eu tenha nada contra o ASA.– aqui ganhamos 3-2, em Alvarenga ganhamos 3-1.
BA– Ouvi dizer que naquela altura existia uma rivalidade muito grande!
TS– Não era rivalidade só com o ASA! Todos os locais onde o Nespereira fosse jogar, era uma rivalidade muito grande. Nós fomos, uma vez jogar a Alvarenga, e estes para nos ganhar foram buscar jogadores como o Bené, do Leixões; o Gentil; o Gomes; e o guarda redes, o Fonseca! Para jogar contra os pobres do Nespereira! E ganharam– nos 2-1, com uma roubalheira terrível, e até o sol já se tinha posto. Trouxeram metade da equipa do Leixões, só para nos ganhar!
BA– Tem alguma situação engraçada que se recorde?
TS– Era em quase todos os jogos! Ao fim dos jogos, havia muito bairrismo! Íamos para Vila Chã, para a adega dos lavradores, comer e beber! A gente acabava os jogos, íamos todos para o Café Central, e tinha lá garrafas de whisky, vinho do Porto e Champagne, com os números das camisolas de quem era o melhor jogador… estava numa estante! Essas garrafas estiveram muito tempo na sede, e mais de metade eram minhas! E salpicões… onde é o café do meu primo Álvaro, na altura era uma tasca, levaram para lá presunto e salpicão, e foi uma borga terrível! Até o senhor Júlio Teixeira andava nessa borga!
Uma altura fomos jogar a Arouca, ganhamos ao Arouca… e depois chegou ali ao Nicho e deitou meia dúzia de foguetes. Havia bairrismo! Jogava– se com amor à camisola, coisa que actualmente não se vê! Jogam mais com amor à camisola, os de fora do que os da própria terra. Tenho muita pena de dizer isto, mas é verdade! Tem aqui muitos bons jogadores, mas haviam de saber descansar mais para jogar futebol.
BA– Acompanha actualmente o Nespereira?
TS– Acompanho… e o Nespereira tem uma boa equipa, só é pena os jogadores não se esforçarem mais, porque com esta equipa tínhamos condições para subir! Tanto a nível de jogadores, como a nível de Direcção! Porque acho, que os jogadores, não lhes faltam nada… se nós ganhassemos na altura que jogavamos o que eles ganham agora, nós até comíamos a terra no campo. É pena, porque nunca conseguimos ganhar nada e ainda tínhamos que tirar as camisolas do corpo uns dos outros, de tão suadas que elas estavam.
BA– Para si quem é o melhor jogador?
TS– Para mim, a melhor coisa que o Nespereira fez– não é tirar o mérito aos outros guarda redes!- mas foi buscar um excelente guarda redes de fora muito jeitoso… Foram buscar este rapaz de Paredes, o Hélder, que é bom jogador! O rapaz de Tarouquela, o Paulo Monteiro, que é muito bom jogador, assim como o Nuno e o Pepe. Mas haveriam de ter um bocadinho mais de vontade! Temos um exemplo: o Rui Teles, é um bom jogador, só que é “malandro”! Não quer jogar futebol!
BA– Quais as suas perspectivas para o Nespereira?
TS– Eu gostaria muito de ver o Nespereira jogar com o Cinfães, na Divisão de Honra!
segunda-feira, 26 de março de 2007
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