quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Manuel Ferrador


“O Nespereira, este ano, pode apanhar o terceiro lugar.”
BA– Senhor Manuel, como foi que o senhor se introduziu no futebol?
MF– Eu introduzi– me no futebol, porque eu tinha muito vício. Desde pequeno que eu gostava de jogar à bola, até que cheguei à um certo ponto que fui jogador do Nespereira.
BA– Como o senhor começou a jogar no Nespereira?
MF– Comecei a jogar no Nespereira em 1951, inaugurei o Campo da Portelinha, lá em cima, em 1952, com jogadores que, eram bons como o Correia, Vítor Mendes, o Olegário, o Abel, Zé Maria Ribeiro e o Zé Maria de Vila Viçosa.
Mas a inauguração calhou– nos mal, porque estávamos no final da primeira parte, a ganhar por 1-0, com um golo do Abel, mas na segunda parte acabamos por sofrer cinco golos. O nosso guarda redes, o Tino, fez uma primeira parte de luxo, mas na segunda parte, acabou por sofrer cinco golos.
BA– E contra quem, foi a inauguração?
MF– Foi contra o Alvarenga. O Alvarenga tinha uma equipa muito forte. E se não fosse o Correia na defesa, tínhamos levado mais. Foi o melhor jogador em campo.
BA– Qual era a sua posição?
MF– Eu era defesa direito. Mas nesse jogo, joguei a extremo direito. O Nelito entrou para defesa direito e eu fui para extremo.
BA– Como é que tem acompanhado o Nespereira?
MF– Enquanto estive aqui, joguei. Inauguramos o campo, e depois fizemos mais alguns jogos, onde joguei sempre a titular. Jogamos com o Alvarenga, várias vezes, com os Unidos do Benfica, no Porto, onde demos 10– 0. Ou 10– 1! Agora não me recordo.
Ganhamos também aos do Couto, onde fomos empatar em Souselo 1-1, onde fui eu quem marcou o golo. E fizemos mais jogos bons aí.
E fiquei sempre a acompanhar, até emigrar para o Brasil, em 1957. Onde na minha despedida, jogamos com o Alvarenga, no Campo da Portelinha. Nunca tínhamos ganho ao Alvarenga, formamos uma equipa à pressa, onde não jogou nem o Correia, nem o doutor Vítor, nem o Albertino da Padaria, e vários dos bons não jogaram. Depois o Alvarenga trouxe a melhor equipa que tinha: Capela, Inocêncio e o Saul. E conseguimos ganhar por 1-0. Foi a primeira vitória do Nespereira, sobre o Alvarenga.
BA- E quando foi isso?
MF– Foi em 1957. A alegria foi tanta, que nós, quando acabou, demos a volta do estádio, pois não esperávamos aquela vitória. Passados 15 dias, eu embarcava para o Brasil.
BA– Este foi o jogo que o marcou mais?
Sim. Este foi o jogo que mais me marcou. Quem marcou o golo, foi o Arturito, um rapaz que jogava aqui, filho do senhor Pinto. Ele está no Brasil. Foi a maior alegria que eu tive.
Quando acabou o jogo, eu disse: “Adeus, que eu não jogo mais. Eu só quis, foi ganhar ao Alvarenga hoje”.
BA– Depois de emigrar, não se ligou mais ao futebol?
MF– Não. O Olegário, às vezes no Brasil, veio ter comigo, pois ele vinha embora, para me perguntar se eu dava alguma coisa para o Nespereira. E eu prontamente disse: “dou!”. Ele queria comprar um equipamento novo, e eu dei uma ajuda.
Quando vim embora eu já tinha mais idade, tinha 38 anos.
BA– Tem acompanhado os jogos esta época?
MF– Sim. Sou sócio. Já fui muitas vezes ver jogos para o lado de Viseu e Lamego. Mas no meu tempo, era diferente de agora.
Naquele tempo, todos tínhamos que trabalhar…
BA– Actualmente, também!
MF– Sim, mas naquele tempo, tínhamos de comprar as chuteiras. O equipamento, é que tínhamos que dar o equipamento. Agora, as chuteiras tínhamos que as comprar, porque tínhamos o vício de jogar.
BA– Então sempre gostou de jogar?
MF– Sempre, ainda me lembro de fazer um jogo com 39 anos ali no Olival, com os antigos. Mas eu já estava meio cansado (risos)…
BA– Quais são os jogadores que acha, que marcou mais o Nespereira?
MF– Para mim, o melhor jogador que Nespereira já teve foi o Correia. Era o número 1. Depois tinha o Olegário, que era um grande jogador; o irmão dele, o Abel, também era bom. O Carlos de Paradela, também era bom… e eu também lhe dava um jeito (risos).
O treinador também era bom, era o senhor Olímpio, que já faleceu. Fizemos bons resultados com ele. Também tivemos o senhor Zé Maria Fonseca, de Vila Viçosa, que também era um bom guarda redes. Naquele tempo, ainda chegou a jogar por nós um júnior do FC Porto, o Couto, que tinha aqui família, e jogava algumas vezes por nós. Esse Couto também era um grande jogador!
BA- Tem alguma situação caricata que se tenha passado no fubol consigo?
MF– Tem! Foi num dos jogos com o Alvarenga, em que começamos a jogar, o guarda redes daqui do Nespereira, o antigo, nada lhe correu bem. O Alvarenga tinha uma equipa naquela altura que se batia à vontade, com qualquer equipa da II Divisão Nacional, e nós perdemos 9– 2. E eu nesse jogo, joguei na frente. Arrebentou– me a chuteira, e fiquei a jogar só com uma. Depois foi com esse pé, sem chuteira que marquei o nosso primeiro golo. O meu primeiro golo pelo Nespereira! Depois o Carlos Duarte, fez o segundo golo, de cabeça. Mas foi um jogo que nos correu muito mal.
Depois fomos fazer um jogo em Alvarenga, que, ao intervalo estávamos a ganhar por 2-0. E eu a segurar o melhor jogador que eles tinham: o Capela. Ele mudava de sítio, eu mudava também! Por mim, ele não conseguia passar. Mas ele marcava golos como queria, pois foi júnior do FC Porto. Eu consegui “seca– lo” que ele naquele jogo não fez nada.
Mas na segunda parte, ele num pontapé de canto directo, conseguiu enfiar a bola dentro da nossa baliza. Eu ainda saltei, mas não consegui tirar a bola de dentro da baliza. Depois ele fugiu de mim, foi mais para trás, e com um pontapé forte, de longe, e com o nosso guarda redes Tino, a não conseguir apanha-la, deixou entrar um “frangaço”. E assim acabamos por empatar 2-2, com aquela famosa equipa do Alvarenga. Nesse jogo, todos jogamos bem.
BA– O que acha da actual equipa do Nespereira?
MF– Eu só vi os primeiros jogos, o Sernancelhe e o Armamar. Contra o Armamar, gostei de vê– los, contra o Sernancelhe, ainda não estavam bem ligados. Mas nos últimos jogos tem melhorado. E eu disse para muitos aí, que o treinador antigo deveria ter saído mais cedo, e ter posto este que está a treinar desde o inicio Porque ele é bom treinador, e dá muita sorte à equipa.
Tem lá bons jogadores também!
BA– Quais os jogadores que mais gosta de ver?
MF– O Nuno é um bom defesa, mas o Vilarinho também o é. Estes dois, eu gosto de vê– los jogar! E o Paulo Monteiro, é muito bom jogador. O Fábio, também é bom jogador, e pode vir a ser um bom defesa direito! O guarda redes, que foram buscar ao Fornelos, é do melhor que há. O grande problema da equipa, ainda é o defesa direito, mas os centrais, são muito bons. E na frente, tem lá muito bons jogadores. Aquele da Feira Franca…
BA– O Pepe?
MF– Sim, o Pepe, também é bom, e está a melhorar cada vez mais.
E além do mais o treinador, deu outra alegria à equipa.
BA– Quais são as suas perspectivas para o Nespereira este ano?
MF– O Nespereira, este ano, pode apanhar o terceiro lugar. O S.J. Pesqueira é muito forte, mas acredito que o Nespereira não vá lá perder [N.R.– Nespereira empatou em Pesqueira].
E o Parada, também é uma boa equipa!
Para a semana: Nandito Nunes

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